De acordo com a Economia Comportamental as pessoas têm racionalidade limitada e utilizam usualmente atalhos que facilitam suas decisões. Elas não analisam de maneira pormenorizada custos e benefícios das opções de escolha, mas utilizam estratégias e dicas facilitadoras. Em geral, estes atalhos (também conhecidos como heurísticas) economizam esforços e simplificam a vida. Algumas vezes, no entanto, o uso destes facilitadores produz resultados diferentes do esperado e que não são desejados pelo decisor.
Richard Thaler e Cass Sunstein (2008) propuseram uma maneira de aproveitar estes insights comportamentais para influenciar as pessoas a melhorarem suas decisões através de pequenas “cutucadas” que chamaram de nudges. Em seu livro “Nudge: como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade”, Thaler e Sunstein afirmam que a colocação de alimentos em posição que facilita sua observação tende a aumentar seu consumo. Desta maneira, sem restringir as opções de escolha, alimentos mais saudáveis podem ser expostos na altura dos olhos ou primeiro, quando se serve sequencialmente do alimento, de forma a incentivar o consumo. Tal arquitetura de escolha foca no contexto da decisão e tem sido utilizada com resultados positivos para aumentar o consumo de frutas, verduras e sucos naturais.
Um nudge para aumentar a contribuição previdenciária foi colocado em prática por Thaler e Benartzi (2004) https://www.jstor.org/stable/10.1086/380085?seq=1 . Os trabalhadores foram convidados a aderir a um plano previdenciário em que as contribuições eram proporcionalmente aumentadas sempre que eles obtivessem um aumento salarial. Os trabalhadores eram livres para retirar-se do plano a qualquer momento, mas enquanto não o fizessem a proporção de sua contribuição em relação a sua renda aumentava gradativamente. O resultado observado em uma empresa foi um aumento da contribuição previdenciária média de 3,5% para 13,6% da renda, após quatro anos. E poucos foram os trabalhadores que optaram por retirar-se do plano.
Propostas nudge receberam significativa atenção por abordar estímulos com baixo custo, que visam o benefício do decisor e não restringem as alternativas de escolha. Em 2010 foi criada a primeira unidade Nudge no Reino Unido (chamada BIT: Behavioural Insights Unit https://www.bi.team ) com objetivo inicial de disseminar a compreensão das abordagens comportamentais no governo e obter um retorno de pelo menos dez vezes o custo da unidade. Desde então a aplicação de nudge à formulação de políticas alcançou diversas instituições internacionais. O Banco Mundial instituiu uma unidade de ciências comportamentais chamada Mind, Behavior and Development Unit – eMBeD que auxilia a implementação de unidades nudges nos países (https://www.worldbank.org/en/programs/embed). Também a OCDE, através do Observatório de Inovação do Setor Público, promove a interação e o compartilhamento de insights comportamentais (https://www.oecd.org/gov/regulatory-policy/behavioural-insights.htm).
Segundo Sunstein (2016), nudge é um empurrãozinho jedi que pode ser observado em diversas situações da vida diária. A cutucadinha pode ser observada no funcionamento do GPS, que indica o melhor caminho para se chegar ao destino desejado. Também num lembrete (“Não se esqueça de fazer a tarefa”), na informação sobre normas sociais (“A maioria das pessoas paga seus impostos em dia”) ou no “enquadramento” de uma situação de modo a incentivar um comportamento (“Com 3 meses de exercícios físicos seu corpo apresentará resultados e você estará mais acostumado a se exercitar”).
Nudges têm sido aplicados às mais diversas situações como para incentivar a prática de exercícios físicos, melhorar a gestão de finanças pessoais, ampliar o engajamento em comportamentos sustentáveis e aumentar a decisões pró-social. Com o aumento da implementação de nudges, têm sido aprofundados estudos sobre seu funcionamento e eficácia, se tornando um campo fértil para pesquisas.
Você pode se interessar por:
SUNSTEIN, C. O mundo Segundo Star Wars. Record, 2016.
THALER, Richard H.; SUNSTEIN, Cass R. Nudge: como tomar melhores deecisões sobre saúde, dinheiro e felicidade. Objetiva, 2008.